Capítulo 09 [N]

  • E então, conseguiu se lembrar?! – questiona o Senhor dos Céus.

Olhando de um lado para o outro daquela sala onde, uma parte estava tão iluminada quanto a luz solar, enquanto a outra parte tão escura quanto um crepúsculo, Catureu continua tão confuso quanto uma criança.

  • Er, Senhor, eu realmente não estou me lembrando de nada que eu tenha feito de errado.

Já no limite da paciência, o Imperador das trevas dá um leve suspiro e…

  • Então, vamos ter que refrescar esses seus miolos vazios…

Depois de ser um pouco sarcástico, ele levantou sua mão direita e invocou um grande livro com sua capa feita em ossos vermelhos. O livro era tão grande que tomou um terço do tamanho da sala. Este mesmo, flutuava pelo ar, e ao se abrir, as páginas começaram a passar uma após a outra, formando uma grande rajada de vento dentro da sala. A rajada era tão forte que Catureu, mesmo sendo um ser cuja sua forma transcende qualquer limite de corpo ou espírito mesmo entre os agentes de rank médio no purgatório, sentia a pressão de apenas estar próximo àquele livro. A ventania continuou por alguns segundos, até que de repente…

  • Ah, encontrei! Vamos ver (…) Em novembro de 2014, você teve a missão de coletar a alma de duas crianças que morreram em um acidente de carro…
  • Sim, me lembro de conseguir finalizar essa missão sem nenhum problema.

Com um intenso suspiro, o Imperador das Trevas respondeu:

  • (…) Sim, você realmente cumpriu com sua missão…
  • Então, por q-
  • Mas,o motorista do carro, que aparentemente devia estar vivo, morreu no meio do processo. Como você me explicaria isso?!

Abaixando a cabeça e fechando os olhos pensando no ocorrido, logo em seguida abrindo-os novamente, Catureu o retrucou:

  • Ele simplesmente teve o que merecia. Por causa dele, aquelas duas crianças morreram.

            Por um segundo, o silêncio reinou dentro daquela sala. Mas, só foi mesmo por apenas um mísero segundo, pois, ele foi completamente quebrado com uma onda vibrante que emanava do corpo do Imperador, junto com sua fúria.

  • E desde quando o homem teria alguma culpa?! Por conta de uma convulsão que ele teve enquanto estava dirigindo o carro… por conta de uma doença que até então era desconhecido para ele, aquele acidente já estava previsto no “Livro Celeste” de acontecer, e você alterou isso sem mais nem menos. Está querendo se rebelar contra nós os Celestes por acaso?!

Seu berro foi tão alto que parecia mais uma chuva de intensos trovões destruindo o mundo. Sem palavras, Catureu apenas o ouviu sem se retrucar, presando por sua vida.

Depois dessa explosão de raiva, o Imperador da Trevas segurou suas emoções, deu um leve suspiro e continuou.

  • Seguindo… Vamos agora para o ano de 2017, onde havia acontecido um assalto em um banco…
  • Sobre esse caso, não errei em nada! No fim, apenas o bandido morreu, como estava previsto de acontecer.

Com um tom sarcástico, o Imperador murmurou:

  • Me parece que você gosta de atrapalhar enquanto os outros falam… Enfim, realmente, apenas o bandido morreu… Mas pode me explicar por que diabos sete pessoas foram feridas gravemente chegando ao ponto de uma delas estar em coma em estado vegetativo no hospital?!
  • B-bem, sobre isso, como ele se recusava a morrer então-
  • E então o quê?! Vamos, me responda!
  • (…) Apareci em sua mente, e comecei a torturar diretamente sua alma usando minha foice da morte…
  • E mais o quê?!
  • (…) Depois, mostrei os piores pesadelos para acabar de vez com a moral dele, e foi quando ele se quebrou completamente e começou a atirar em todos à sua volta. Mas só por isso?! Não vejo nada de errado nisso. Como havia dito, no fim, completei minha missão perfeitamente.
  • Me impressiona o quão lavada é essa sua cara. Falar algo assim como se fosse algo normal e não ter um pingo de arrependimento em suas atitudes.
  • (…)

“E por que eu teria tal arrependimento…”, pensou Catureu.

  • (…) E por fim, o incidente de hoje, em que você deveria recolher a alma de um bandido, que seria morto por um grupo rival. Você não só apareceu para o bandido, como também o perseguiu, mudou todos os acontecimentos que estavam previstos para acontecer, e o pior, várias pessoas morreram e ficaram feridas.

“Por que toda essa raiva? Bem, talvez nessa eu tenha exagerado só um pouquinho?”, pensou Catureu, e depois de um breve silêncio ele cinicamente responde:

  • Mas eu não fiz nada de errado, pelo contrário, eu livrei as pessoas daquele lixo. Ele era um dos quatro criminosos mais procurados daquele lugar. Ele cometeu vários atos hediondos, cruéis e violentos, além disso, estava ligado ao tráfico e prostituição de pessoas pelo submundo.  E daí se alguns relés inferiores se feriram ou morreram no processo?! Eles deveriam me agradecer, já que fiz foi um favor em se livrar daquele lixo.

“Pronto, estou satisfeito! falei tudo que pensava, acredito que agora eles vão entender meu ponto de vista” pensou-o depois de se exaltar expondo todos os seus pensamentos achando que seria reconhecido. Mas o que ele não esperava era que um forte instinto assassino o derrubasse por completo. Sim, por conta de sua estupidez, ele foi abatido direto pro chão.

“Ugh. O que é isso?! Não consigo levantar. Minha cabeça… Que dor é essa? Parece que até que ela está explodindo”, sem saber o que estava acontecendo, tudo que ele podia fazer era apertar fortemente sua cabeça agonizando de dor tendo todo seu corpo esmagado no chão. Perto de desmaiar, ele usou suas forças para levantar seu rosto a alguns centímetros de altura, tentando enxergar os dois seres. Ao olhar para o alto, viu de relance a face de um demônio em forma de energia. Essa energia emanava diretamente do corpo do Imperador do Inferno, que o respondeu:

  • E desde quando você é um “ser” digno de fazer tais julgamentos?! Saiba muito bem o seu devido lugar, ou te destruirei aqui agora!

“Acho que esse é o meu fim… Hump. Ironicamente, eu, a Morte, aquele que faz a coleta das almas dos mortos, vou ter o mesmo fim que aqueles inferiores, mas pelo menos será pelas mãos dos Celestes. Que grande honra”, pensou Catureu, mesmo sabendo que aquele seria seu último momento de existência, ao invés de estar assustado, desesperado, implorando por sua vida, pelo contrário, estava agradecido por ter uma morte  tão digna como aquela. Ele simplesmente fechou seus olhos e aceitou seu destino. Seus ossos começaram a trincar e seu manto negro começou a se transformar em poeira estelar. Quando ele ouviu sua cabeça trincar, ele simplesmente deu um leve sorriso e agradeceu. E finalmente, ele morreu, ou pelo menos é o que ele pensou.

Compartilhe com seus amigos:
Escrever um comentário

Deixar um comentário

error: Conteúdo protegido!

Entre em contato conosco